quinta-feira, 12 de março de 2009

Criaturas da noite

Lá vinha Fodinha, girando pelas mesas de bar, facilmente vista perambulando por rodoviárias imundas, na saída de seu colégio público do interior, onde se propunha a cursar o então ginásio. Cabelos negros, repicados, curtos, olhos vivos, miúdos e negros, baixa estatura: o que lhe servia da graça que toda mulher do povo deve ter, nem gorda nem magra, mas gostosa.
Uma devassa que se diferenciava pelo grau de humanidade, pela plenitude da qual só um sábio acompanhante que soubesse extrair o melhor de uma mulher, não cego pela estupidez das opiniões e preconceitos mundanos, poderia gozar.
Seu perfume barato quando de longe sentido, anunciava e embalava esperanças e promessas de decaírmos enebriados mais e mais uma vez a cada novo alvorecer de cada de mais uma noite profana. E nos acolhia...
Fodinha, bem me lembro, tantas e tantas vezes fora meu cupido, prá lá e pra cá, aqui e acolá, com bilhetes, recados e fuxicos.
O que acontece é que Fodinha em toda sua "superficialidade" vivia a magia das coisas, a quintessência da vida, rodava e rodava como um "girassol da noite" e como se aquela noite nunca fosse ter fim, e como se o Universo todo se findasse na negrura de seus olhos, era uma bandida do bem, o Robin Hood dos perdidos, desolados, desgarrados e despojados que, como ela, também agiam como se não tivessem mais onde ir, ou como se pouco importasse o amanhã. E tudo se misturava e fecundava numa bola de neve, em perfeita harmonia.
Não saberia definir ao certo minha relação com aquela mulher, tão despretensiosamente "gigante em sua própria natureza" e rica, como era rica. Por vezes, sentia necessidade da sensaçao que me fazia ver as coisas da vida e os problemas do cotidiano de forma mais amena, apenas pela sensação de pô-la no colo com vigor bêbado, e chamá-la: "-Minha puta!!". Hoje, se sorteado com a sorte de reencontrá-la, pensaria nessas putas escrotas que nos cercam cotidianamente, todas repletas em sua imensa ego-vacuidade, olharia pra Fodinha e toda sua "Cosmo-plenitude", e bem dentro dos seus olhos lhe apertaria e diria: -"Fodinha, minha amiga! Meu sangue! Minha parceira de lutas coisas que a concepção não consegue conceber nem o conceito conceituar".
Apesar de tantos outros colos frequentados por ela, sentia, que, comigo os gestos e risos que permeavam toda a comunicação tinham um quê único e mútuo de cumplicidade, de sentimento, nos preenchíamos compartilhando de uma visão bela e mágica. Era como se eu me tornasse sua infância difícil, de nenhum mimo, tampouco lazer... e ela se tornasse minha saga de injustiças sofridas e justiças conquistadas e os ombros em sangue da bandeira de ideais carregados por toda uma vida...
Creiam nesse que vos fala: ela nunca cobrou um centavo de ninguém dos poucos agraciados com a dádiva de realmente possuí-la. Não, ela não era dessas putas.
Fodinha: apelido maldoso, ingrato e insensível dos cabras sem instrução e estúpidos do interior; pois ela era muito mais q isso;
Fodinha era fodona.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Complexo-auto-afirmativo-infanto-juvenil

A essa vulgar escória de porquinhos pedantes que se digladiam numa poça de lama, lutando por um lugar à uma luz que apenas cega, vindoura dos pútridos holofotes da podridão da ostentação, na ingênua crença, de que essa luz é a luz da sabedoria.
Noites boêmias que outrora (entenda-se 1980 à meados de 2000) eram regadas à discussões saudáveis e genuínas, onde ambos ganhavam em trocas de conteúdo, atualmente, em mesas de bar agora povoadas por esses pequenos subprodutos xerocados de quem tem ou teve alguma grandiosidade legítima e natural, tentam buscar patéticos argumentos para convencê-los uns aos outros a reduzir-se à condição de fiel pobre cão no recôndito dos humilhados, no intuito muitas vezes tão nobre quanto o de impressionar a mocinha mais dotada de atributos físicos à mesa (estas que, na maioria dos casos, se põem à ouvir tais marmeladas como subterfúgio, enquanto "o coroa encantado montado num cheque em branco não vem"), ou qualquer coisa tão imbecil quanto.
Porque se preocupar com isso? Porque escrevo isso? Afinal, você, cidadão em pleno e saudável exercício de seu bom senso e demais faculdades, consideraria mesmo que esses fatos não influem fecalmente em sua vida? Não está ciente de que todos nós estamos à mercê de à qualquer momento sermos confundidos (ou confundir alguém de boa fé em suas proposições) com algum desses pequenos seres embalados por tardes de Malhaçao?